Por
Beatriz Machnick e Stanley Martins Frasão
A
precificação inteligente é hoje uma das principais alavancas estratégicas para
maximizar a rentabilidade, aumentar a competitividade e fortalecer o
relacionamento com clientes em sociedades de advogados de médio e grande porte.
Bancas que mantêm modelos tradicionais de cobrança, como a hora simples ou
tabelas fixas, perdem relevância em um mercado cada vez mais orientado pela
previsibilidade, pelo valor percebido e pela diferenciação. Para se manter
competitivo, o setor precisa transformar a forma como estrutura seus preços,
com base em dados, em clareza de custos e no valor estratégico que cada serviço
representa para o cliente.
O
primeiro passo é compreender que o preço não deve refletir apenas o esforço ou
o tempo envolvido, mas sim o impacto gerado. A mitigação de riscos, a economia
obtida em processos regulatórios ou a conquista de uma vantagem competitiva são
elementos que precisam estar incorporados à formação de honorários. Em
paralelo, cresce a demanda por previsibilidade. Empresas buscam clareza nos
custos jurídicos e tendem a fidelizar bancas que ofereçam essa transparência. A
segmentação também se torna indispensável, já que serviços de alta complexidade
e impacto não podem ser cobrados da mesma forma que atividades mais
operacionais ou de menor valor agregado.
Essa
transformação exige incorporar dados de performance e inteligência de mercado
na gestão de propostas. Métricas como realization rate, utilization rate,
margem líquida e lock-up deixam de ser indicadores internos restritos ao
controle financeiro e passam a orientar a precificação. Escritórios que cruzam
dados históricos com benchmarking setorial conseguem estruturar preços mais
justos e estratégicos, capazes de alinhar expectativas com clientes e proteger
margens em um mercado competitivo.
No
cenário jurídico, diferentes modelos convivem e devem ser aplicados de forma
criteriosa. A cobrança por hora segue sendo útil em litígios complexos, nos
quais há variáveis imprevisíveis, mas perde espaço quando o cliente exige
previsibilidade de escopo e custo. O fee fixo atende bem a contratos ou
pareceres com escopo delimitado, oferecendo segurança tanto ao escritório
quanto ao cliente. Já os modelos de contingência, vinculados ao êxito, permitem
alinhar totalmente os interesses entre banca e cliente em causas indenizatórias
ou recuperações judiciais. 
Em
demandas estratégicas de longo prazo, o modelo híbrido, que combina honorários
fixos e remuneração por resultado, equilibra risco e retorno. Os contratos de
retentor mensal se consolidam como solução para assessoria recorrente,
garantindo receita previsível. Por fim, o value pricing, que atribui preço de
acordo com o valor estratégico percebido pelo cliente, representa uma evolução
natural e posiciona o escritório como parceiro de negócios, e não apenas
prestador de serviços.
Para
implementar essas práticas, o diagnóstico inicial é indispensável. O mapeamento
do escopo, dos riscos e do valor atribuído pelo cliente permite estruturar
propostas personalizadas e adequadas ao contexto de cada relação. O uso de
ferramentas de business intelligence amplia a análise de rentabilidade por
cliente, área ou advogado, revelando desvios que corroem margens sem que os
sócios percebam. A comunicação também é decisiva. Explicar com clareza a lógica
da precificação, detalhar entregáveis e benefícios e incluir indicadores de
performance reforça a percepção de justiça e valor na cobrança. Escritórios
mais maduros chegam a oferecer diferentes pacotes de serviços, do mais básico
ao mais sofisticado, ampliando o ticket médio e ajustando a entrega ao perfil
de cada cliente.
As
boas práticas internacionais reforçam esse movimento, mas precisam ser
adaptadas à realidade local. Não basta importar modelos estrangeiros, é
necessário adequar à cultura e ao posicionamento de cada sociedade. O uso de
dados concretos, e não de percepções subjetivas, sustenta propostas comerciais
mais consistentes. Negociar resultados em vez de apenas discutir descontos
fortalece a relação com clientes corporativos. A tecnologia se consolida como
aliada ao permitir sistemas de precificação dinâmica que consideram
complexidade, prazos, urgência e perfil do cliente, transformando um processo
antes artesanal em estratégia de gestão.
Um
exemplo prático ajuda a ilustrar. Em contratos de consultoria contínua em temas
regulatórios, como LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), é possível estruturar
um retainer mensal para cobrir demandas recorrentes e acrescentar honorários
fixos para situações extraordinárias. Esse modelo pode ser complementado por
bônus vinculados a resultados, como a conquista de certificações. O cliente
percebe clareza nos custos, alinhamento de expectativas e diferenciação no
serviço prestado, enquanto o escritório garante previsibilidade e proteção de
margem.
A
precificação inteligente, portanto, deve ser entendida como uma competência
estratégica contínua. Trata-se de um processo sustentado por análise de dados,
escuta ativa e adaptação ao movimento do mercado. Sociedades que transformarem
a gestão de preços em vantagem competitiva conseguirão sustentar crescimento,
rentabilidade e reputação, consolidando-se em um mercado jurídico cada vez mais
exigente.
Beatriz
Machnick é contadora, especialista em Controladoria e Finanças, mestre em
Governança e Sustentabilidade. Sócio fundadora da BM Consultoria em
Precificação e Finanças.
Stanley
Martins Frasão é advogado, mestre em Direito Comercial, sócio de Homero Costa
Advogados.
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