Stanley
Martins Frasão
Advogado Sócio de Homero
Costa Advogados
Maquiavel,
em seus ensinamentos, certa vez afirmou: "Dê o poder ao homem, e
descobrirá quem ele realmente é".
Este
pensamento é uma janela para a alma humana, desvendando como a autoridade e a
influência têm o poder de despir o véu da conveniência e revelar o caráter em
sua forma mais crua.
O
poder é, essencialmente, um prisma através do qual a verdadeira essência de um
indivíduo é exposta sob a luz da liderança e da decisão.
Para
alguns, ele serve como um catalisador para a benevolência e o altruísmo,
erguendo pilares de progresso e bem-estar coletivo. Para outros, é a serpente
sussurrante de tentações sombrias, engendrando corrupção e abuso. ( https://www.migalhas.com.br/depeso/390593/o-conflito-etico-da-sociedade-moderna ).
Nas
entranhas das posições de destaque, os indivíduos enfrentam o árduo teste de
suas convicções. É ali, no teatro das decisões cruciais, que a verdadeira
natureza moral emerge, seja ela nobre ou vil.
A
natureza do poder é um enigma que atravessa a história da filosofia, da
religião e da política. Será ele um mandato celeste, ou uma invenção
meticulosamente tecida pela tapeçaria das relações humanas?
Muitas
tradições religiosas defendem que o poder é uma extensão da vontade divina,
colocando reis e líderes como representantes terrenos de uma autoridade
celestial. Tal concepção estava particularmente enraizada em monarquias
absolutistas, onde o monarca era visto não apenas como governante, mas como
escolhido por Deus.
Em
contrapartida, o pensamento secular apresenta o poder como uma criação humana,
fruto de pactos sociais e estruturais. Neste cenário, o poder é um instrumento
nas mãos da sociedade, forjado e refinado pela engenharia política e pelo
consenso coletivo.
Pensadores
como Hobbes e Rousseau se debruçaram sobre essa dicotomia. Hobbes via o poder
como essencial para a ordem, enquanto Rousseau pregava a soberania popular,
propondo que o poder nasce da vontade coletiva.
A
questão da divindade do poder, ou sua ausência, permanece sem uma resposta
conclusiva, flutuando entre as correntes do pensamento humano. Mas,
independentemente de onde se acredita que o poder origina, sua gestão justa e
legítima é um dos maiores enigmas da condição humana.
Desvendar
o poder não é apenas um exercício intelectual, mas também uma exploração da
alma humana e suas inclinações mais profundas. Tal busca não é somente por
compreensão, mas por um equilíbrio que permita uma coexistência harmoniosa em
meio à complexidade das sociedades que construímos.
Seguimos,
mais um pouco, no labirinto do poder e do caráter humano.
A
jornada do poder é semelhante a um rio que atravessa variadas paisagens,
refletindo a luz e a escuridão das terras por onde passa. Em alguns momentos,
ele é o sustentáculo da vida, irrigando as terras da justiça e da equidade; em
outros, transforma-se em uma torrente destrutiva, arrasando os alicerces da
moralidade e da ética.
A
história está repleta de figuras que encarnaram os extremos dessa força. Nelson
Mandela e Mahatma Gandhi utilizaram o poder para unir e elevar, enquanto
outros, como Hitler e Stalin, o empregaram para dividir e subjugar. Esses
exemplos ilustram não apenas o poder em si, mas também a responsabilidade
inerente aos que o detêm.
A
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, conhecida como a
"Carta Cidadã", declara no parágrafo único do Art. 1º: "Todo o
poder emana do povo..." Este enunciado é um eco do debate milenar sobre a
origem do poder e seu legítimo portador.
Em
democracias contemporâneas, a noção de que o poder é uma extensão do povo é
fundamental. É o cidadão comum que, através do seu voto e engajamento cívico,
confere legitimidade aos atos de governança. Esta é uma das grandes conquistas
da modernidade: a ideia de que cada um de nós é, simultaneamente, soberano e
servidor da comunidade.
Todavia,
mesmo em democracias, o poder pode ser mal interpretado e mal utilizado. Os
escândalos de corrupção que frequentemente estampam as manchetes são um
lembrete sombrio de que a vigilância é um preço eterno da liberdade e da
justiça.
A
filosofia política moderna, ao disseminar o conceito de “checks and balances”
(freios e contrapesos), busca uma forma de calibrar o poder, de modo a evitar
seus excessos. O poder deve ser usado não como um cetro de dominação, mas como
uma tocha que ilumina o caminho para a evolução e o aprimoramento da sociedade.
A
verdadeira questão pode não ser se o poder é divino ou humano, mas como o ser
humano escolhe exercê-lo. O poder pode ser um instrumento de generosidade ou de
ganância, um reflexo da luz ou das trevas que habitam no coração dos homens.
Ao
refletirmos sobre o poder, estamos, na verdade, contemplando um espelho da
humanidade. E cabe a cada um de nós determinar o reflexo que nele veremos. A
busca pelo equilíbrio entre autoridade e humildade, entre controle e liberdade,
é a eterna dança da civilização.
Faço
um convite à introspecção e ao diálogo sobre o poder que reside em cada um de
nós e como o exercemos no grande palco do mundo. Porque o poder revela,
transforma e define, mas somos nós, coletiva e individualmente, que escrevemos
a história de sua passagem.
Não
abusem do “Poder da Caneta”!