Stanley Martins Frasão
Advogado Sócio de Homero Costa Advogados
“Não
é a circunstância, mas a sua opinião sobre ela que te afeta profundamente.”
– Epíteto
A
cientista política alemã Elisabeth Noelle-Neumann, nascida em Berlim, em 19 de dezembro de
1916, e falecimento em 25 de março de 2010, desenvolveu a Teoria
da Espiral do Silêncio, na década de 1970. Seu livro, “A Espiral do
Silêncio Opinião Pública: Nosso Tecido Social.” (1ª. ed. – agosto 2017 –
Estudos Nacionais), nos dá aulas sobre o assunto.
A
Teoria é uma abordagem fundamental para entender como as opiniões individuais e
coletivas interagem na sociedade e como isso molda o comportamento humano em relação
à expressão de pontos de vista divergentes.
A
Teoria sugere que as pessoas têm uma habilidade inata para perceber a opinião
pública predominante em um determinado tópico ou questão. Neste caso podem se
calar, aderir à maioria ou divergir, podendo ficar, nesta última opção no
temido isolamento.
Isso
ocorre através da observação de diversos sinais, como notícias na mídia,
conversas sociais, interações online e até mesmo pesquisas de opinião.
Quando
alguém percebe que sua opinião difere significativamente da maioria, o medo do
isolamento social entra em jogo.
O
medo do isolamento social é uma das pedras angulares da Teoria da Espiral do
Silêncio.
As
pessoas têm uma tendência natural a buscar a aceitação social e evitar o
conflito ou o ostracismo.
Quando
percebem que suas opiniões são impopulares ou em minoria, muitas vezes optam
por deixar de expressá-las publicamente.
Esse
medo do isolamento social é uma força poderosa que pode influenciar e fomentar
a conformidade com a opinião predominante.
Um
conceito relacionado à Teoria é o dos "elos de referência".
Estes
são indivíduos ou grupos com os quais uma pessoa se identifica e cujas opiniões
são particularmente significativas. Quando os “elos de referência” mantêm uma
opinião majoritária, isso aumenta a probabilidade de uma pessoa adotar essa
opinião, enquanto as opiniões minoritárias podem ser suprimidas para evitar o
conflito com esses elos.
A
influência da Teoria do Espiral do Silêncio pode ser vista em diversos aspectos
da vida moderna. Na política, por exemplo, as pessoas frequentemente evitam
expressar suas opiniões políticas em ambientes onde percebem uma opinião
predominante diferente. Isso pode distorcer a percepção pública das opiniões
reais e dificultar o diálogo construtivo.
Além
disso, as redes sociais e as bolhas de filtro online desempenham um papel
significativo na amplificação da opinião pública predominante, tornando mais
difícil para as opiniões minoritárias serem ouvidas. As pessoas tendem a seguir
e interagir principalmente com aqueles que compartilham suas opiniões, criando
uma “espiral de silêncio virtual”.
A
Teoria da Espiral do Silêncio também apresenta desafios e críticas. Alguns
argumentam que ela pode não levar em consideração a capacidade das redes
sociais de criar novas opiniões e tendências. Além disso, a Teoria pode não se
aplicar igualmente em todas as culturas e contextos sociais, porque a percepção
da opinião predominante pode variar.
A
Teoria destaca como o medo do isolamento social e a busca pela aceitação
influenciam o comportamento humano em relação à expressão de opiniões.
Ela
oferece insights valiosos para compreender como a conformidade social e a
supressão de opiniões podem moldar a dinâmica da comunicação e da sociedade.
Embora
a Teoria tenha sido desenvolvida no século passado, suas implicações continuam
a ser relevantes, especialmente em um mundo cada vez mais interconectado e
digital, onde as dinâmicas da opinião pública desempenham um papel central em
nossa vida cotidiana.
Relacionando
essa Teoria ao "cancelamento de pessoas", podemos ver uma conexão.
O
“cancelamento” ocorre quando um indivíduo é alvo de ostracismo social, boicote
ou críticas intensas devido a opiniões ou comportamentos controversos.
O
medo de ser “cancelado” pode levar as pessoas a se conformarem com as opiniões
populares, mesmo que discordem delas, por receio das consequências sociais.
A
Teoria pode explicar porque algumas pessoas evitam expressar opiniões
impopulares ou polêmicas, contribuindo para a “dinâmica do cancelamento”, onde
a conformidade com as normas sociais prevalecentes se torna uma estratégia de
autopreservação.
A
mesma Teoria pode ser aplicada aos “linchamentos nos tribunais virtuais”, onde
indivíduos podem hesitar em expressar opiniões impopulares online devido ao
receio de serem atacados, cancelados ou ostracizados pela maioria.
Os
“tribunais virtuais” se referem à prática de julgar e condenar indivíduos nas
redes sociais ou na internet, antecedendo o devido processo legal. Um
verdadeiro assassinato de uma reputação.
Quando
a Teoria da Espiral do Silêncio entra em jogo nesse contexto, pode criar uma
dinâmica onde as vozes mais fortes ou populares prevalecem, silenciando aqueles
com opiniões discordantes. Isso pode afetar a liberdade de expressão e promover
um ambiente de conformismo online.
Mas
a citada Autora enfatiza que o “conceito da espiral do silêncio reserva a
possibilidade de transformar a sociedade aos que não têm medo do isolamento ou
de alguma forma o superam.”, citando Rousseau: “Tenho que aprender a suportar a
censura e a humilhação.”, acrescentando que “... quem não tem medo do
isolamento social terá fatalmente o poder de destruir a ordem das coisas.” e “A
opinião pública, que para muitos significa a pressão para a conformidade, é para
os destemidos o palco da mudança.”.
Enfim,
o assunto é longo e poder-se-ia continuar refletindo sobre a Espiral do
Silêncio, mas termino aqui com uma citação, na página 102 do mencionado livro,
há um exemplo: “a pauta internacional da liberação das drogas precisou
contar, inicialmente, com uma campanha contra as drogas, de modo a colocar o
tema em pauta, romper o tabu do assunto e estimular a divergência para, então,
ver surgir opiniões opostas ao simples e óbvio “não”. As pautas em 2023, no
Brasil, têm sido Drogas e Aborto.
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