Stanley
Martins Frasão
Advogado Sócio de Homero Costa
Advogados
As
controvérsias não são apenas brigas ou desentendimentos. Elas representam a
pluralidade da experiência humana. Em uma sociedade democrática, o dissenso não
é apenas permitido, mas essencial. É através do confronto de ideias que as
perspectivas se ampliam, os interesses se revelam e as estruturas são
desafiadas. O consenso permanente, quando ocorre, pode indicar conformismo,
enquanto as controvérsias são um sinal de vitalidade social.
Ainda
assim, é fundamental distinguir entre controvérsias saudáveis e conflitos
improdutivos. O debate que nasce da escuta atenta e da argumentação construtiva
edifica. Já a polêmica vazia, alimentada por desinformação e ataques pessoais,
apenas desgasta. Reconhecer a realidade das controvérsias exige maturidade para
aceitar o desconforto do desacordo sem cair na hostilidade.
No
campo jurídico, a controvérsia é uma parte essencial e cotidiana. Não há
justiça sem a existência de conflitos. O trabalho de advogados, juízes e
legisladores acontece na complexa zona cinzenta entre normas e fatos.
Interpretar, ponderar e decidir são processos que surgem das controvérsias.
Diferentemente do senso comum, o Direito não busca eliminar os conflitos, mas
tratá-los de forma racional e institucionalizada.
Na
política, o mesmo princípio se aplica. Quando o debate dá lugar à imposição e a
divergência é silenciada em prol de uma suposta "unidade", há
retrocesso. Democracias fortes não temem controvérsias; pelo contrário, elas as
acolhem, processam e, quando possível, as transformam em avanços coletivos.
O
mundo contemporâneo enfrenta um desafio que deturpa a essência das
controvérsias: a polarização. Em um ambiente radicalizado, o dissenso perde sua
capacidade de enriquecer e se transforma em trincheira. As redes sociais, com
seus algoritmos voltados ao engajamento, intensificam esse fenômeno. Isso gera
uma lógica de "nós contra eles", onde a complexidade é reduzida a
slogans, e a empatia cede espaço para caricaturas do outro.
Essa
cultura de antagonismo absoluto sufoca o diálogo e prejudica o pensamento
crítico. O problema não está na existência de opiniões divergentes, mas na
incapacidade de reconhecer qualquer importância na perspectiva alheia. Quando
todo debate assume o formato de uma guerra, todos saem perdendo.
Reconhecer
a realidade das controvérsias significa aceitar que não há uma única verdade ou
uma única forma de enxergar o mundo. Em muitas questões, mais importante do que
"vencer" um argumento é construir pontes entre perspectivas
legítimas, ainda que incompatíveis. Para isso, são imprescindíveis:
- Humildade
intelectual: admitir que podemos estar errados ou
ter conhecimento incompleto;
- Disposição
ao diálogo: ouvir com atenção, argumentar com
respeito;
- Compromisso
com a verdade: buscar informações confiáveis e
combater a desinformação;
- Apreço
pela diversidade: compreender que a diferença é parte
essencial da vida em sociedade.
A
realidade das controvérsias não é um problema a ser eliminado. É uma
característica inerente à liberdade, uma expressão da Democracia e um motor
para o progresso humano. Lidar com ela exige, acima de tudo, maturidade
coletiva.
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