Dentre os trabalhos diários de um advogado está o de obter cópias de processos físicos para o desenvolvimento de seus trabalhos.
Conseguir cópias, de modo geral, é simples, até porque é direito
do advogado, ressalvados processos em segredo de justiça.
Mas há processos que a missão é algumas vezes complicada em razão
do volume de páginas, por ser polêmico ou por envolver valores bilionários e
várias partes envolvidas, mas não impossível.
E é este tipo de processo, que reúne todas as aludidas nuances,
que é a motivação deste causo.
Há mais de trinta dias, sem êxito, havia pelo menos cinco
escritórios enviando incontáveis advogados ao Fórum, diariamente, para
monitorar o andamento e consequentemente disputar a vista do processo e
respectiva cópia, que já contava, imagina-se, com mais de dez mil
páginas.
A esperança era obter fotografias das páginas principais durante o
mínimo intervalo entre a devolução do processo por um advogado à Secretaria e
de sua remessa para despacho pelo Juiz da causa.
Mas a Secretaria, a fim de facilitar seu trabalho,
propositadamente passou a movimentar o processo fora do horário de expediente,
o que dificultava saber a real posição física do processo.
Entretanto, um casal de advogados que estava monitorando minuto a
minuto o andamento do processo constataram a uma movimentação processual
durante o expediente forense, ocasião que resolveram às pressas saírem do
escritório em direção ao Fórum, munidos de um discurso pronto e provavelmente
inócuo na lapela: “ora, não havia razão para que o Sr. Escrivão desse
oportunidade de vista do processo para fins de obtenção de cópias, afinal,
aquele processo é público”.
Fizeram sinal, o táxi que parou era dirigido por um senhor de
avançada idade, que errou o caminho duas vezes e atrasou a ponto de os
advogados quase pedirem a interrupção da corrida. Como se não bastasse a
tensão, os sinaleiros de trânsito não contribuíram: todos, sem ressalva,
estavam vermelhos durante o trajeto.
Como problemas andam de mãos dadas, chegando ao Fórum, havia uma
fila considerável para o elevador. Quando conseguiram embarcar, depois de dez
minutos de espera, o ascensor desceu para a garagem e retornou ao hall de
entrada, para, somente, depois tomar o rumo esperado. O uso das escadas teria
sido mais rápido!
Finalmente os advogados chegaram à antessala da Secretaria, quando
se depararam com um rapaz, no alto de seus prováveis recém-completados dezoito
anos, arrastando com dificuldade um carrinho quase do seu tamanho, literalmente
abarrotado de incontáveis cadernos processuais.
Astuto, o advogado, imaginando que se tratava justamente do
processo em questão, lançou um olhar para sua colega que automaticamente vestiu
seu melhor sorriso e se colocou a educadamente a travar uma conversa com o
mocinho, enquanto seus longos cabelos eram jogados de um lado para o outro, a
cada minuto:
- “Olá, como vai? Nossa mãe, isso tudo aí é um caso só?!”
O rapaz, tímido e de cenho franzido, respondeu de cabeça baixa:
- “É sim... caso dos grandes”.
- “Posso dar uma olhada rapidamente? É que estamos monitorando um
caso tão enorme quanto esse faz tempo...”.
E foi assim que as cópias foram obtidas, para a incalculável
felicidade do cliente.
A advocacia tem dessas coisas: por vezes o resultado vem aos
surtos, aos goles, aos poucos, em curvas, aos trancos, nunca em linha reta.
“Graças” ao taxista atrasado, aos elevadores lentos e aos sinaleiros vermelhos.
Enfim, Missão cumprida!
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