Stanley
Martins Frasão
Advogado Sócio de Homero Costa
Advogados
A
expressão “sistema Fermat-Pascal” não é uma terminologia técnica universalmente
reconhecida como um conceito fechado, mas pode ser interpretada como uma
referência simbólica ou filosófica à união dos princípios de Pierre de Fermat e
Blaise Pascal, dois grandes pensadores do século XVII que deram origem a
fundamentos profundos da matemática moderna — especialmente na teoria das
probabilidades, análise combinatória, óptica, geometria, e teoria dos jogos.
Se o
“sistema Fermat-Pascal” for compreendido como a combinação da lógica matemática
de Fermat com a intuição probabilística de Pascal, então sim, podemos dizer que
ele está em forte consonância com o funcionamento do mundo.
Proponho
uma reflexão sobre o exercício contemporâneo da advocacia brasileira a partir
da metáfora do "sistema Fermat-Pascal" — uma síntese simbólica entre
o rigor lógico-matemático de Pierre de Fermat e a abordagem probabilística e
estratégica de Blaise Pascal. Ao relacionar os fundamentos desses pensadores
com a prática jurídica atual, defende-se que a advocacia do século XXI requer
uma atuação que equilibre a técnica jurídica com a visão estratégica,
previsibilidade com risco, e tradição com inovação.
A
prática da advocacia brasileira tem enfrentado transformações profundas nos
últimos anos. A complexidade das relações sociais, o avanço tecnológico, a multiplicação
normativa e a sobrecarga do Poder Judiciário exigem uma nova postura
profissional. Não basta mais dominar o ordenamento jurídico: é preciso
compreender o sistema de incertezas em que se insere o Direito e agir com
estratégia, previsão e flexibilidade.
Neste
cenário, propõe-se a metáfora do "sistema Fermat-Pascal" como chave
de leitura da advocacia contemporânea. Ainda que não se trate de uma doutrina
jurídica formalmente reconhecida, essa expressão pode representar com clareza
dois pilares essenciais da nova advocacia:
- De um lado, a
racionalidade técnica e lógica, representada por Fermat;
- De outro, a intuição
estratégica e o cálculo de riscos, representados por Pascal.
1. Pascal: A Probabilidade
como Elemento da Decisão Jurídica
Blaise
Pascal, ao desenvolver os fundamentos da teoria das probabilidades no século
XVII, antecipou conceitos que hoje são essenciais à gestão jurídica moderna. Em
seu célebre "paradoxo da aposta", defendeu a racionalidade de
decisões baseadas em incertezas mensuráveis.
No Direito, isso se
manifesta de diversas formas:
- Cálculo de risco
processual;
-
Gestão de contingências jurídicas em empresas;
-
Decisão por acordos estratégicos com base em possíveis desfechos;
-
Atuação em litígios complexos, nos quais o desfecho não depende apenas da lei,
mas de múltiplas variáveis imprevisíveis (comportamento do Judiciário,
conjuntura social, jurisprudência oscilante, etc.).
O
pensamento pascaliano convida o advogado a abandonar a ilusão da certeza
absoluta e a adotar uma postura mais realista e estratégica.
2. Fermat: Técnica,
Precedente e Rigor Argumentativo
Pierre
de Fermat, por sua vez, simboliza o rigor lógico, a precisão da
linguagem matemática e a busca pela verdade a partir de estruturas bem
definidas — o que se aproxima da tradição dogmática do Direito.
Sua influência pode ser
associada:
- À construção de teses
jurídicas consistentes;
- Ao domínio dos princípios
estruturantes do Direito;
- À importância crescente
dos precedentes vinculantes, da interpretação constitucional sistemática e do
controle lógico das decisões.
Se
Pascal nos remete à incerteza, Fermat nos lembra que, mesmo em um mundo
instável, é possível construir argumentações sólidas e previsíveis, ancoradas
no ordenamento jurídico e na técnica legislativa.
3. A Advocacia na
Intersecção: Técnica e Estratégia
A
prática da advocacia exige, hoje, a conciliação entre esses dois paradigmas. O
profissional que atua apenas com base na norma, sem compreender o risco e o
contexto, se torna vulnerável. Por outro lado, aquele que atua de forma
intuitiva, sem domínio técnico, compromete a legitimidade de sua atuação.
Exemplos práticos dessa
intersecção incluem:
-
Advocacia empresarial, que exige tanto compliance normativo (Fermat) quanto
visão de risco jurídico-negocial (Pascal);
-
Advocacia contenciosa, que demanda estratégia de litígio baseada em dados e
probabilidades (Pascal) combinada com raciocínio jurídico consistente (Fermat);
-
Advocacia digital e inovação jurídica, onde ferramentas de jurimetria e Legal
Analytics reúnem modelos estatísticos (Pascal) com estruturação lógica e
automatizada da linguagem jurídica (Fermat).
4. Implicações para a
Formação e Atuação do Advogado
Essa
abordagem demanda mudanças profundas na formação jurídica e na postura
profissional:
- Formação
complementar em estatística, economia comportamental e ciência de dados;
-
Desenvolvimento de habilidades analíticas e pensamento sistêmico;
-
Ênfase na interpretação estratégica da norma, em vez da simples repetição
doutrinária;
-
Uso de tecnologias jurídicas (LegalTechs) que operam com dados, probabilidades
e automação, sem perder de vista a argumentação jurídica clássica.
Enfim,
a metáfora do sistema Fermat-Pascal revela-se útil para compreender a
advocacia contemporânea como um campo em que se equilibram tradição e inovação,
técnica e estratégia, certeza e risco.
O
advogado do presente — e do futuro — precisa incorporar em sua atuação tanto o
pensamento lógico de Fermat quanto a visão probabilística de Pascal, sob pena
de se tornar obsoleto em um mundo jurídico cada vez mais complexo,
interconectado e dinâmico.
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