Stanley Martins Frasão
Advogado Sócio de Homero Costa
Advogados
Outro
dia, voando a dez mil metros de altura, fui surpreendido por um pensamento
curioso, que acabei dividindo com um comissário de bordo: por que o banheiro do
avião não tem placa de gênero? Não há “masculino” ou “feminino”. Apenas uma
porta, um trinco e a necessidade — humana, universal, igual para todos.
A
experiência de cruzar aquela porta é quase filosófica. Ninguém discute, ninguém
reivindica exclusividade. Cada um entra, faz o que precisa. Simples assim. Como
a morte, que não pergunta quem você é antes de bater à porta: chega para todos,
sem distinção.
Aqui
embaixo, no chão firme da civilização, continuamos amedrontados. Medo de
misturar, de acolher, de aceitar que nem todos cabem nas etiquetas. Há quem
transborde os quadrados dos banheiros binários. E isso é tão legítimo quanto
qualquer outra identidade.
Pessoas
trans enfrentam hostilidade. Crianças com pais solo recebem olhares
atravessados. Pessoas com deficiência, degraus intransponíveis. E tudo isso por
causa de uma necessidade tão elementar — mais simples, impossível.
Será que já não passou da hora de criarmos espaços mais generosos? Se até a morte é democrática e os banheiros das alturas também, talvez o problema não esteja nas portas ou nas placas — mas em nós.
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