segunda-feira, 4 de agosto de 2025

COP30: UM TESTE DECISIVO PARA O COMPROMISSO DO BRASIL COM O CLIMA

 

 

Stanley Martins Frasão

Advogado Sócio de Homero Costa Advogados

 

A incerteza sobre a realização da COP30 na Amazônia expõe desafios logísticos e políticos que comprometem o papel do Brasil na luta contra as mudanças climáticas.

As mudanças climáticas não esperam por crises locais, nem toleram desculpas.

A COP30, planejada para ocorrer em Manaus em 2025, tem tudo para simbolizar o protagonismo do Brasil na agenda climática global: será um marco histórico ao colocar a maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, no centro das discussões globais. Entretanto, os recentes rumores sobre uma possível mudança de sede para São Paulo ou Brasília, devido a problemas logísticos e aos preços exorbitantes dos hotéis em Manaus, estão transformando essa oportunidade crucial em uma crise sem precedentes.

Uma Oportunidade em Risco. Anunciada como o espaço ideal para discussões sobre mitigação climática, preservação ambiental e inclusão social, a COP30 em Manaus representará não só o Brasil, mas especialmente a Amazônia e suas comunidades. Um investimento inicial de mais de R$ 5 milhões já foi realizado, enquanto esforços para preparar a infraestrutura local começaram há meses.

Agora, com a possibilidade de que o evento seja deslocado por desorganização e interesses oportunistas, as projeções positivas começam a desaparecer. Além do impacto financeiro, o Brasil se arrisca a perder algo mais valioso: sua credibilidade climática no cenário internacional. Realizar a COP em São Paulo ou Brasília, por mais conveniente que pareça, enfraqueceria o impacto simbólico de sediar o evento em uma região que é tão vital para a estabilidade climática quanto vulnerável às alterações do planeta.

Razões Para Permanecer na Amazônia. O valor de realizar a COP30 em Manaus transcende questões logísticas. A floresta amazônica é responsável por capturar aproximadamente 2 bilhões de toneladas de CO₂ ao ano e desempenha um papel essencial na regulação do clima global. No entanto, 17% da floresta já foi desmatada, com a ameaça de atingir um ponto de inflexão que mudaria para sempre sua dinâmica ecológica, transformando-a de sumidouro de carbono em uma emissora de CO₂.

Realizar este evento no coração da floresta enviaria uma poderosa mensagem: o Brasil está comprometido com a preservação da Amazônia e com soluções climáticas globais. Além disso, daria voz às comunidades indígenas, ribeirinhas e locais que historicamente têm sido os verdadeiros guardiões da floresta, mas que frequentemente são deixados fora das grandes conferências internacionais.

Um Déjà Vu Preocupante. O caso do Chile em 2019, que teve que abrir mão da sede da COP25 devido a protestos e crises sociais, oferece lições claras sobre as consequências da incapacidade organizacional. A mudança para Madrid permitiu que a conferência ocorresse, mas diluiu o foco no contexto específico do país originalmente escolhido. O Brasil enfrenta um cenário similar — mas com fatores que poderiam ter sido evitados, como a explosão nos preços da hotelaria ou a falta de planejamento centralizado.

Diferentemente do Chile, onde fatores externos fizeram a sede se tornar inviável, no caso brasileiro, os problemas são fruto de desorganização interna e de interesses locais que favoreceram o ganho de curto prazo em detrimento da relevância global do evento.

Soluções Ainda São Possíveis. Ainda há tempo para salvar a COP30 em Manaus. Algumas medidas práticas poderiam resolver os problemas atuais e garantir que a mensagem de compromisso do Brasil com o clima seja fortalecida:

Regulação dos preços: O governo pode intervir para estabelecer limites para os preços de hospedagem durante o evento, além de oferecer incentivos fiscais ou subsídios temporários para os hotéis.

Infraestrutura temporária: Habitações modulares sustentáveis, vilas ecológicas e soluções alternativas de estadia podem reduzir a pressão sobre o setor hoteleiro.

Engajamento público-privado: Parcerias entre o governo, locais e internacionais podem viabilizar a logística necessária, complementar o investimento público e evitar o desperdício de recursos já mobilizados.

Mensagem clara ao mercado: Governos devem alertar empresários que o abuso de preços não apenas prejudica a imagem do evento, mas também compromete futuros projetos na Amazônia.

Conclusão: Um Momento Decisivo Para o Brasil. A realização da COP30 na Amazônia é muito mais do que um evento diplomático: é uma oportunidade de impacto global para reafirmar o compromisso do Brasil com a preservação do meio ambiente e a liderança climática.

Governos, iniciativa privada e sociedade civil precisam agir agora para garantir que o evento permaneça no coração da floresta. Permitir que a falta de planejamento ou interesses econômicos locais ditem o futuro da Conferência seria não apenas um desperdício de recursos, mas também um retrocesso simbólico e prático.

A Amazônia é o centro da crise climática, e é exatamente ali que as soluções devem ser discutidas. Líderes brasileiros ainda têm a chance de provar ao mundo que o compromisso com o clima é mais forte do que a desorganização ou anseios argentários. Mas o tempo está se esgotando: como a própria floresta, a COP30 também exige ação imediata.

Nenhum comentário:

Postar um comentário