Stanley Martins Frasão
Advogado Sócio de Homero Costa
Advogados
A incerteza sobre a realização da COP30 na
Amazônia expõe desafios logísticos e políticos que comprometem o papel do
Brasil na luta contra as mudanças climáticas.
As mudanças climáticas não esperam por
crises locais, nem toleram desculpas.
A COP30, planejada para ocorrer em Manaus em
2025, tem tudo para simbolizar o protagonismo do Brasil na agenda climática
global: será um marco histórico ao colocar a maior floresta tropical do
planeta, a Amazônia, no centro das discussões globais. Entretanto, os recentes
rumores sobre uma possível mudança de sede para São Paulo ou Brasília, devido a
problemas logísticos e aos preços exorbitantes dos hotéis em Manaus, estão
transformando essa oportunidade crucial em uma crise sem precedentes.
Uma Oportunidade em Risco. Anunciada como o
espaço ideal para discussões sobre mitigação climática, preservação ambiental e
inclusão social, a COP30 em Manaus representará não só o Brasil, mas
especialmente a Amazônia e suas comunidades. Um investimento inicial de mais de
R$ 5 milhões já foi realizado, enquanto esforços para preparar a infraestrutura
local começaram há meses.
Agora, com a possibilidade de que o evento
seja deslocado por desorganização e interesses oportunistas, as projeções
positivas começam a desaparecer. Além do impacto financeiro, o Brasil se
arrisca a perder algo mais valioso: sua credibilidade climática no cenário
internacional. Realizar a COP em São Paulo ou Brasília, por mais conveniente
que pareça, enfraqueceria o impacto simbólico de sediar o evento em uma região
que é tão vital para a estabilidade climática quanto vulnerável às alterações
do planeta.
Razões Para Permanecer na Amazônia. O valor
de realizar a COP30 em Manaus transcende questões logísticas. A floresta
amazônica é responsável por capturar aproximadamente 2 bilhões de toneladas de
CO₂ ao ano e desempenha um papel essencial na regulação do clima global. No
entanto, 17% da floresta já foi desmatada, com a ameaça de atingir um ponto de
inflexão que mudaria para sempre sua dinâmica ecológica, transformando-a de
sumidouro de carbono em uma emissora de CO₂.
Realizar este evento no coração da floresta
enviaria uma poderosa mensagem: o Brasil está comprometido com a preservação da
Amazônia e com soluções climáticas globais. Além disso, daria voz às
comunidades indígenas, ribeirinhas e locais que historicamente têm sido os
verdadeiros guardiões da floresta, mas que frequentemente são deixados fora das
grandes conferências internacionais.
Um Déjà Vu Preocupante. O caso do Chile em
2019, que teve que abrir mão da sede da COP25 devido a protestos e crises
sociais, oferece lições claras sobre as consequências da incapacidade
organizacional. A mudança para Madrid permitiu que a conferência ocorresse, mas
diluiu o foco no contexto específico do país originalmente escolhido. O Brasil
enfrenta um cenário similar — mas com fatores que poderiam ter sido evitados,
como a explosão nos preços da hotelaria ou a falta de planejamento
centralizado.
Diferentemente do Chile, onde fatores
externos fizeram a sede se tornar inviável, no caso brasileiro, os problemas
são fruto de desorganização interna e de interesses locais que favoreceram o
ganho de curto prazo em detrimento da relevância global do evento.
Soluções Ainda São Possíveis. Ainda há tempo
para salvar a COP30 em Manaus. Algumas medidas práticas poderiam resolver os
problemas atuais e garantir que a mensagem de compromisso do Brasil com o clima
seja fortalecida:
Regulação dos preços: O governo pode
intervir para estabelecer limites para os preços de hospedagem durante o
evento, além de oferecer incentivos fiscais ou subsídios temporários para os
hotéis.
Infraestrutura temporária: Habitações
modulares sustentáveis, vilas ecológicas e soluções alternativas de estadia
podem reduzir a pressão sobre o setor hoteleiro.
Engajamento público-privado: Parcerias entre
o governo, locais e internacionais podem viabilizar a logística necessária,
complementar o investimento público e evitar o desperdício de recursos já
mobilizados.
Mensagem clara ao mercado: Governos devem
alertar empresários que o abuso de preços não apenas prejudica a imagem do
evento, mas também compromete futuros projetos na Amazônia.
Conclusão: Um Momento Decisivo Para o
Brasil. A realização da COP30 na Amazônia é muito mais do que um evento
diplomático: é uma oportunidade de impacto global para reafirmar o compromisso
do Brasil com a preservação do meio ambiente e a liderança climática.
Governos, iniciativa privada e sociedade
civil precisam agir agora para garantir que o evento permaneça no coração da
floresta. Permitir que a falta de planejamento ou interesses econômicos locais
ditem o futuro da Conferência seria não apenas um desperdício de recursos, mas
também um retrocesso simbólico e prático.
A Amazônia é o centro da crise climática, e
é exatamente ali que as soluções devem ser discutidas. Líderes brasileiros
ainda têm a chance de provar ao mundo que o compromisso com o clima é mais
forte do que a desorganização ou anseios argentários. Mas o tempo está se
esgotando: como a própria floresta, a COP30 também exige ação imediata.
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