sexta-feira, 29 de julho de 2016

Missão: Obtenção de cópias de um processo




Dentre os trabalhos diários de um advogado está o de obter cópias de processos físicos para o desenvolvimento de seus trabalhos.
Conseguir cópias, de modo geral, é simples, até porque é direito do advogado, ressalvados processos em segredo de justiça.
Mas há processos que a missão é algumas vezes complicada em razão do volume de páginas, por ser polêmico ou por envolver valores bilionários e várias partes envolvidas, mas não impossível.
E é este tipo de processo, que reúne todas as aludidas nuances, que é a motivação deste causo.
Há mais de trinta dias, sem êxito, havia pelo menos cinco escritórios enviando incontáveis advogados ao Fórum, diariamente, para monitorar o andamento e consequentemente disputar a vista do processo e respectiva cópia, que já contava, imagina-se, com mais de dez mil páginas. 
A esperança era obter fotografias das páginas principais durante o mínimo intervalo entre a devolução do processo por um advogado à Secretaria e de sua remessa para despacho pelo Juiz da causa. 
Mas a Secretaria, a fim de facilitar seu trabalho, propositadamente passou a movimentar o processo fora do horário de expediente, o que dificultava saber a real posição física do processo.  
Entretanto, um casal de advogados que estava monitorando minuto a minuto o andamento do processo constataram a uma movimentação processual durante o expediente forense, ocasião que resolveram às pressas saírem do escritório em direção ao Fórum, munidos de um discurso pronto e provavelmente inócuo na lapela: “ora, não havia razão para que o Sr. Escrivão desse oportunidade de vista do processo para fins de obtenção de cópias, afinal, aquele processo é público”.
Fizeram sinal, o táxi que parou era dirigido por um senhor de avançada idade, que errou o caminho duas vezes e atrasou a ponto de os advogados quase pedirem a interrupção da corrida. Como se não bastasse a tensão, os sinaleiros de trânsito não contribuíram: todos, sem ressalva, estavam vermelhos durante o trajeto.

Como problemas andam de mãos dadas, chegando ao Fórum, havia uma fila considerável para o elevador. Quando conseguiram embarcar, depois de dez minutos de espera, o ascensor desceu para a garagem e retornou ao hall de entrada, para, somente, depois tomar o rumo esperado. O uso das escadas teria sido mais rápido!

Finalmente os advogados chegaram à antessala da Secretaria, quando se depararam com um rapaz, no alto de seus prováveis recém-completados dezoito anos, arrastando com dificuldade um carrinho quase do seu tamanho, literalmente abarrotado de incontáveis cadernos processuais.
Astuto, o advogado, imaginando que se tratava justamente do processo em questão, lançou um olhar para sua colega que automaticamente vestiu seu melhor sorriso e se colocou a educadamente a travar uma conversa com o mocinho, enquanto seus longos cabelos eram jogados de um lado para o outro, a cada minuto:
- “Olá, como vai? Nossa mãe, isso tudo aí é um caso só?!”
O rapaz, tímido e de cenho franzido, respondeu de cabeça baixa:
- “É sim... caso dos grandes”.
- “Posso dar uma olhada rapidamente? É que estamos monitorando um caso tão enorme quanto esse faz tempo...”.
E foi assim que as cópias foram obtidas, para a incalculável felicidade do cliente.
A advocacia tem dessas coisas: por vezes o resultado vem aos surtos, aos goles, aos poucos, em curvas, aos trancos, nunca em linha reta. “Graças” ao taxista atrasado, aos elevadores lentos e aos sinaleiros vermelhos.

Enfim, Missão cumprida!

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